Genealogia

Possuo toda uma carga genética culinária, uma herança dadivosa que me chegou por parte de mãe e de pai.

São avós, pais e tios, homens e mulheres de toda a sorte de personalidade e interesses. Mas enxergo na maioria deles uma forte relação com o mundo da comida.

Afinal, segundo o ditado, o sapateiro olha pro sapato!

Começo a suspeitar que esse gene tem o poder de se fortalecer a cada grau de descendência, principalmente nos homens. E é sobre eles, os homens dadivosos da família, que quero falar hoje.

.*. Maman .*.

Meu avô materno, o Vô Alfredo, não fazia nem café, como quase todos os homens de sua geração. Mas teve uma padaria por muitos anos. Quer dizer, “muitos anos” pra ele, que era empreendedor nato, não sossegava o facho e já morou por toda parte, teve madeireira, peixaria…

Os tios, talvez pela influência da Vó Dinah, já se saíram bem mais prendados. Churrascos, peixes, pizzas, pães, assados… cada um com seu dom.

Tio Ricardo e tio Renato são os mais talentosos, em minha opinião totalmente parcial e coruja de sobrinha-fã, corroborada por outros membros da família. Falarei bastante sobre esses dois por aqui, pois são influências poderosas na minha personalidade cozinheira (e em todo o resto também!).

Por enquanto, fica registrado que:

  • Tio Ricardo morou lá em casa uns meses, na época em que eu aprendi a ler e era dele a coleção de Revistas MAD que devorei antes mesmo de ir pra escola. Se a vista não me pisca, foi ele quem batizou um prato clássico da família, a Batata Urgente. Foi também ele que uma vez me pediu para fazer uma receita francesa de torta de cebolas como presente de aniversário.
  • Tio Renato tem um talento para produzir um jantar em minutos, uma sopinha da meia-noite num estalar de dedos e é campeão nos pratos com frutos do mar.

.*. Babbo.*.

Da família do Babbo, a saga dos homens dadivosos tem início com o Vô Juju. A lembrança mais remota que tenho dele deve ser por volta dos quatro, cinco anos, quando íamos para a casa da praia.

Ele sentava com a gente no degrauzinho da porta e nos dava carne de siri que ele mesmo pescava, cozinhava e tirava da casca. Parecíamos passarinhos, com a boca aberta esperando que ele checasse se não havia nenhum vestígio de cartilagem antes de nos dar um bocadinho.

Até hoje não sei comer siri cozido no bafo, pois não herdei a paciência do Vô Juju para tirar as carninhas de dentro da casca. Talvez aprenda para fazer isso com o meu espetáculo de sobrinho ou com meus filhinhos e netos.

O Vô Juju tinha nos fundos da casa uma oficina de marcenaria e pouco invadia a cozinha da Vó Nair, mas era tão prendado e dadivoso que passou essas características para os filhos.

O Babbo conta que, ao chegar faminto da faculdade, metia-se na cozinha para providenciar um bom prato de arroz com ovo. Ganhou até o apelido de Lagarto por causa disso.

Ele pertence a uma geração que não tem problemas em lavar uma louça ou fazer um almocinho. Do vô Juju herdou a paciência e o cuidado no preparo dos ingredientes.

É capaz de picar quuiiiiilos de carne para estrogonofe sorrindo e cantando, deixando os cubinhos todos milimetricamente idênticos. Preciso pedir algumas receitas que ele andou aprimorando nos últimos tempos para reproduzir, fotografar e contar aqui também.

Os outros irmãos também não ficam para trás. Dois deles ganham o troféu dadivoso(depois do Babbo, é claro, em minha opinião totalmente parcial e coruja de filha-fã): Tio Marquinho, que faz uns pães divinos, e Tio Amilton, meu padrinho.

Esse último eu chamava de “Tí Mito”. Mas agora que sua primeira netinha vai nascer, fui obrigada a rebatizá-lo (carinhosamente e com todo o respeito) de “Vô Mito”. Entre suas receitas mais famosas estão o arroz de carreteiro e o coelho assado, que todos os sobrinhos já comeram pensando que fosse frango.

.*. Dos dois .*.

Sou a filha mais velha e dois anos depois de mim veio o único menino da casa, o Mano. Ele faz o pudim de leite mais gostoso do planeta e ainda manda ver no bife à milanesa, na lasanha de panqueca e um montão de outras coisas.

Casou-se com a Joice, super prendada e querida, o que leva a crer que Dudu, meu espetáculo de sobrinho, além de lindo-loiro-sapeca-inteligente e querido, vai gostar de cozinhar também.

Por enquanto, o que ele mais gosta é de bater com as panelas e brincar de arrastar as tampas no chão 😀



10 comentários em “Genealogia

  1. Akemi

    Cada encontro familiar deve ser um banquete com toda esta carga genética! Fiquei curiosa com estas batatas urgentes, espero ver a receita em breve por aqui!

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  2. Dadivosa

    Akemi e Eliana, os encontros de família são daquele jeito, né? Muitas risadas e brincadeiras, comida de casa, bagunça e alegria. Faz um tempinho que não vou pra lá, mas o Reveillon promete 😀

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  3. Karla

    A minha família é pequena e qacabamos morando cada uma num estado, eu fico só pensando na festa que deve ser quando uma família grande assim se junta, no Natal então, deve ser o máximo.
    Beijo

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  4. Vitor Hugo

    Minha família também é pequenas, mas lembro quando era criança os pastéis que minha avó fazia. Eu sempre queria mexer na máquina de abrir a massa, mas sempre com a 2° intenção de pegar as tirinhas de massa frita que sempre saiam, heheheh.

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  5. Silvia Arruda

    Dadi,
    Na minha família não tem nenhum talento culinário. Minha mãe cozinhava muito bem, mas odiava pilotar as panelas. Eu não, eu gosto de cozinhar, aliás, é um dos meu hobbies.
    Meu pai só sabe fazer café e pasta (vou postar no Doce Casinha, receita que vem de gerações da família Arruda, segundo ele hehe). Meu irmão só sabe fritar hamúrguer. Meu marido só sabe fazer miojo haha. Minha irmã é a única que puxou a mim. Curte cozinhar e inventar na cozinha (a torta de limão dela é divinaaa)…

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  6. Daniela

    Ai DAdi, só você mesmo! Fiquei lembrando da minha genealogia e me emocionei! Minhas avós cozinhavam divinamente, uma ainda cozinha! A materna era uma mamma, fazia receitas deliciosas sempre dum jeito mais caseiro. A paterna cozinha que é um negócio e tem ares de chef, já teve restaurante e ama pratos complicados além de saber decorá- los (coisa que não sei). Os avós eram bons de garfo, se bem que meu avô materno adorava inventar receitas malucas que nunca davam certo. Minha mãe cozinha bem demais e meu pai também só que ele é cheio de manias, ninguém pode mexer nas facas dele, nos utensílios dele e de preferência não entre na cozinha dele.

    Beijocas mil,
    Dani.
    P.S. finalmente a gripe me deixou e eu voltei, ela deve estar numa fossa de dar dó…hehehe .

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  7. Dadivosa

    Queridos e queridas, a genealogia culinária das mulheres vai ter de ser explicada em mais de um capítulo, pois não correria o riscode pô-los todos a dormir ou fazê-los fugir para outras paragens.

    Karla e Vitor, é muito bacana mesmo. Hoje, com a primaiada mais crescida, cada tio faz a véspera do Natal com seus filhos e netos, mas o pessoal dá um jeito de se encontrar no dia 25.

    Silvia, você e sua irmã têm talento para dar e vender pra todo mundo da família, né? 😀

    Dani, que bom que voltou! Adorei ler o relato da sua genealogia Dadivosa também, que ao que tudo indica é poderosíssima, hein? Fiquei rindo ao imaginar sua gripe cantando “Não se váááá/ Eu já não posso suportar essa minha vida de amarguraaaa… Não se vááá/Não me abandone por favor…”
    Hhahahah

    ;***

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  8. Pingback: Bolo de Laranja da Vó Nair | PratoFundo

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