Há amigos que transcendem gerações. São dos pais, dos avós, dos tios e dos filhos, moram no coração da família toda. Em casa temos uma coleção dessas figuras queridas por todos, dessas amizades raras e especialíssimas com que o Pai e a Mãe nos presentearam e cujo carinho nos ensinaram a cultivar. A Seca é uma dessas amigas. Visitava-nos quando eu ainda era um bebê roliço, escrevia-me cartas cheias de figurinhas quando ainda não sabia ler, recebia a mim e... [+]
Um dia ainda hei de ter a pachorra de listar as façanhas culinárias de maman. Algumas não são lá muito gloriosas, como a fuzarca de louças, panelas, facas, talheres e cascas que fica a pia ao término da cozinhança, o caos organizado da geladeira ou aquela história do caldo de peixe sem peixe que volta e meia o tio reconta. Mas a mãe tem assim um jeito de cozinhar inimitável e delicioso, com pratos e proezas de se tirar o... [+]
Pode-se classificar a família entre os espirituosos e os incautos, sendo os primeiros bastante mais numerosos e despachados. São também os primeiros a refutar e depois propagar pelo mundo afora as Teorias de Maman. Algumas envolvem comida, como a afirmação de que da cebola deve-se cortar as pontas e pelo menos duas camadas depois da casca e tirar o miolo para que não deixe gosto ardido na comida (desperdiça que é uma barbaridade, mas desde que me conheço por gente... [+]
Há quase dois anos, publiquei a receita de Nega Maluca que a Yuli costuma preparar com muito garbo e formosura. Como ontem ela comemorou seu aniversário, já em sua casinha nova mais para o Sul, e recebeu, ainda com voz de caverna, meu telefonema de feliz aniversário às oito e meia da madrugada, republico o post à guisa de singela homenagem à minha querida irmã que tem altura de freira*. Ingredientes: 3 xícaras de trigo 2 xícaras de açúcar 1 xícara de chocolate em... [+]
De origem alemã, esse bolo-pão com cobertura doce é muito apreciado no Sul do Brasil, onde recebe a alcunha de cuca (ao que tudo indica, uma corruptela de ‘kuchen’). De origem alemã também era a Vó Nair, exímia fazedora de variadas e aromáticas cucas atraidoras de visitas para o café no meio da tarde. Às vezes ela me deixava descascar, picar e passar em açúcar e canela as bananas da cobertura enquanto preparava a massa úmida. Por maior que fosse a quantidade... [+]
De cintura larga, cabelos até a cintura, saia até o joelho, decote até o pescoço, rosto apagado e sobrancelhas revoltas, Maria Arlete não assistia à televisão, não ouvia rádio, fazia questão de deixar bem claro que ‘não era de desfrutes’. Vi uma foto dela comigo, eu devia de ter uns dois, três anos. Ela ajudava na limpeza da casa da mãe. Por debaixo da casca estudadamente pudica, tinha duas grandes taras, por assim dizer: sabonete Francis e pudim de leite.... [+]
Feriado em dia de semana traz consigo a oportunidade de espiar o que andam aprontando os programas culinários da TV aberta, como o da senhorinha que chama as telespectadores de ‘aminhasamiga’. Sexta-feira santa ela preparava um tal de “Pavê dos Deuses” cuja receita, com mínimas modificações, está anotado em meu primeiro caderno como “Pavê da Vó Dinah”. Dispenso os muito doces, muito cremosos, com muitos ingredientes, com frutas, chocolate, claras e marshmellows. Pavê, para mim, só vale esse, sem muita legalenga e... [+]
2008 é o ano dos nenéns, estou convencida. É o segundo porteiro que vem me mostrar a foto do recém-nascido no celular, com aquele sorrisão comendo as orelhas, todo pimpão. Bár-ba-ra, olha que cabeludinha, enche os pulmões para contar enquanto abre a porta do elevador e aperta o botão do meu andar. Que linda, nome da minha irmã! Parabéns pela filhinha, até mais! Barrigões aparecem aqui e ali, rostos rechonchudinhos fazem caretas para o “ultrassom 4D”, é menino, é menina, estamos grávidos, nasceu!... [+]
Aprendi a fazer a iguaria com a Vogra (mistura de vó com sogra) e tenho cá feito minhas adaptações ao prato, que dizem ser de origem libanesa. Sempre pergunto como se diz o arroz com aletria em árabe, parte porque me esqueço, parte porque o som das sílabas me faz sentir o cheirinho do prato. A receita é daquelas boas para iniciantes e iniciados, neutra o suficiente para acompanhar quase qualquer coisa, com personalidade suficiente para encantar sem ofender paladares infantis ou... [+]
Eis que aos quatro dias de janeiro do ano de dois mil e oito comemoramos bodas de madeira. Ao contrário do que eu lembrava, não há somente bodas de prata e de ouro, mas toda uma classificação dos aniversários de matrimônio, que começa com algodão (1 ano), depois vai pro papel (2 anos), pro trigo (3 anos), passa pela cera (4 anos). Os porquês das substâncias representativas confesso que não fui buscar. Fato é que a madeira representa os cinco anos. Cinco anos... [+]