Posts Tageados em ‘texto’

Não tá morto quem peleia, tchê

Pois peleando estou com as gôndolas do supermercado (cadê granulado pra brigadeiro? qual será a melhor azeitona? levo ou não levo os pimientos de piquillo?), com o fogão de duas bocas vitrocerâmico (para fazer um almoço para seis), com o forno preguiçoso (não terminou de cozinhar as cebolas nem as batatas do bacalhau, que se escondeu todo no fundo, de vergonha, por supuesto!), com um coentro maldito que se disfarçou de salsinha, todo pimpão no vaso de plástico marrom, com... [+]

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A falibilidade é benigna

Aceitunas

Chef  Norberto Jorge nos recebeu à porta, vestindo calças coloridas, com sua mamá Carmen,  de cabelos de algodão e blush aplicado a rigor. Tão logo chegamos, esquecemos do caminho escuro, da pequena horda de mendigos alcoolizados, da região nada glamourosa onde ficava o restaurante. Provamos um azeite siciliano, que cheirava a tomates verdes e goiaba,  um espanhol que sabia a ervas e um balsâmico cremoso, envelhecido naqueles barris empilhados ali, de fronte à mesa, logo na entrada. As azeitonas postas... [+]

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Do que não tem receita, nem nunca terá

Meu café de todo dia, o talharim com camarão assustado, a salada verde com queijo feta, os figos grelhados com redução de vinho do porto, os cogumelos refogados que viraram recheio de massa folhada, a trocentésima edição da carninha com shoyu e legumes, o arroz temperadinho com alho e cebola, o frango cremoso, o pão com mel da manhã, a carambola da meia-noite, o ovo frito com flor de sal e pimenta que foi parar sobre a torrada do almoço... [+]

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Um homem inebriante, inesquecível, cheiroso

Morava numa cidade onde havia, em quase todo bairro, um indiano em cada esquina, indiano servindo para designar desde lojinhas de conveniência que vendiam leite com  prazo de validade vencido, até portinhas quase suspeitas que entregavam fumegantes e aromáticas refeições em embalagens de alumínio, passando pelos movimentados restaurantes de paredes vermelhas com garçons de reluzentes cabelos negros e profundos olhos amendoados. Variados foram os momentos felizes que tiveram o aroma das especiarias indianas como pano de fundo. No indiano da esquina dava um pulo naquelas... [+]

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De Torradeiras e Memórias

Foto: Toaster Museum

Torradeiras me lembram a Dona Gerda. Ela usava um exemplar de linhas retas, bege, onde cabiam confortavelmente seis metades de pão francês (nem por nada consigo me lembrar da marca, adoraria encontrá-la novamente, mesmo que numa foto).  Caso algum conviva desejasse uma torrada mal-passada, podia resgatá-la antes dela pular usando uma pinça que mais parecia dois garfos, com três dentes cada, entrelaçados feito namorados. Os lanches e cafés-da-manhã eram sempre sortidos na casa da Dona Gerda. Sortidos e perfumados pela... [+]

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Estimada Marinha

Na casa da Marinha

Que a dadivosice corre no sangue da família, a Leitora e o Leitor queridos já devem ter se dado conta. São tantas influências deliciosas, tantas pessoas que me fizeram gostar de cozinhar (muito embora não seja lá nenhuma especialista e tenha meus dias de gororoba) que às vezes vem a sensação de que não vou conseguir dar o devido crédito a todas elas enquanto viver. Dadivosa pra lá de enrustida, Ti’mara – ou Tia Mara, ou Marinha – teima em dizer... [+]

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Quem sai aos seus não degenera!

Vagem Ensopadinha

Um dia ainda hei de ter a pachorra de listar as façanhas culinárias de maman. Algumas não são lá muito gloriosas, como a fuzarca de louças, panelas, facas, talheres e cascas que fica a pia ao término da cozinhança, o caos organizado da geladeira ou aquela história do caldo de peixe sem peixe que volta e meia o tio reconta. Mas a mãe tem assim um jeito de cozinhar inimitável e delicioso, com pratos e proezas de se tirar o... [+]

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Aipim com Bacon

Aipim com Bacon

Pode-se classificar a família entre os espirituosos e os incautos, sendo os primeiros bastante mais numerosos e despachados. São também os primeiros a refutar e depois propagar pelo mundo afora as Teorias de Maman. Algumas envolvem comida, como a afirmação de que da cebola deve-se cortar as pontas e pelo menos duas camadas depois da casca e tirar o miolo para que não deixe gosto ardido na comida (desperdiça que é uma barbaridade, mas desde que me conheço por gente... [+]

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Sábado é dia de Cuca

De origem alemã, esse bolo-pão com cobertura doce é muito apreciado no Sul do Brasil, onde recebe a alcunha de cuca (ao que tudo indica, uma corruptela de ‘kuchen’). De origem alemã também era a Vó Nair, exímia fazedora de variadas e aromáticas cucas atraidoras de visitas para o café no meio da tarde. Às vezes ela me deixava descascar, picar e passar em açúcar e canela as bananas da cobertura enquanto preparava a massa úmida. Por maior que fosse a quantidade... [+]

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Pudim de Leite da Vó Dinah (e da Maria Arlete, da Íria, da Iraí)

De cintura larga, cabelos até a cintura, saia até o joelho, decote até o pescoço, rosto apagado e sobrancelhas revoltas, Maria Arlete não assistia à televisão, não ouvia rádio, fazia questão de deixar bem claro que ‘não era de desfrutes’. Vi uma foto dela comigo, eu devia de ter uns dois, três anos. Ela ajudava na limpeza da casa da mãe. Por debaixo da casca estudadamente pudica, tinha duas grandes taras, por assim dizer: sabonete Francis e pudim de leite.... [+]

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