Farofa com amendoim
Gente desastrada e trapalhona desse mundão afora: tamo junto!
Se acham que não vão conseguir cozinhar por motivos de atabalhoamento, deem uma espiada neste vídeo. Devo confessar que gabaritei todos os perrengues:
Acham pouco?
Aqui vai uma breve compilação de minha estabanada coreografia cotidiana com narração à la Teile e Zaga (se não conhece, clique aqui, ligue o áudio, assista e volte!):
- Desembarque voluntário de veículo em movimento em posto de beira de estrada com rolamento lateral, esfoladura de braço e hematoma de glúteo esquerdo.
- Rabissaca de escada dobrável doméstica com enganchamento olímpico de mão na porta do maleiro, aterrissagem flexionada sem incidentes e zaga.
- Fechamento de porta do banheiro com a mão ainda do outro lado, dancinha vogue dolorida e laga.
- Movimento confuso de aceno ao motorista com tropicada no canteiro de frô, aterrissagem em quatro apoios provocando frenagem brusca e paralisação do automóvel a um palmo da cabeça, será que morri, não, tô é besta, caminhada abusada até o outro lado da rua.
- Golpe cervical em troca de lençol de elástico com semi-cambalhota frontal sobre colchão.
- Chute involuntário em roda de carrinho de supermercado com pretejamento instantâneo de unha, meia-volta pra disfarçar, vou pesar esse melão e teile.
- Pirueta Chandelier em piso molhado do rolê com golpe dorsal em quina de balcão de granito e finalização em solo com fissura de cóccix. Eu. Tô. Pas-sa-da.
- Trancamento de saia comprida em escada rolante do metrô com jogada de cabelo Joelma, me solta que eu vou carregar o bilhete único.
Deixo de fora o relato de queimaduras, cortes, quebra de taças, copos, louças e tampas de panela de ferro fundido feitas para durar uma vida toda.
No mais, sigo esfolando os dedos em cantos de armário embutido (já viram como são afiados?) e cozinhando até que decentemente.
E a receita de farofa com amendoim?
Se você está se perguntando o que a farofa tem a ver com esse compilado trapalhadas, eu digo: tudo, meus estimadinhos!
Porque o segredo de uma boa farofa – e de não se machucar – é prestar atenção. Esvaziar a cachola. Tentar se concentrar no que está fazendo e aguçar os sentidos, como se do estado de alerta dependesse a sua sobrevivência neste combalido planeta. Pensando bem, depende mesmo, já que meu anjo da guarda anda meio revolts com o mano do céu devido à carga laboral. Mas aqui vamos tentar nos comportar.
Para fazer uma farofa crocante e formosa precisa de gordura, farinha, fogo baixo, movimento calculado e paciência. Lembre-se de esperar esfriar um pouco antes de provar (falou a bocozona que vive com a língua sapecada).
Nesta receita, vamos incluir amendoim torrado, cúrcuma e folha de cenoura (aquela que tanta gente desavisada joga fora) para alegrar o baile.
Prepare uma frigideira grande e uma colher de pau ou espátula de silicone. Se vai fotografar para se amostrar por aí, faça isso rapidinho deixe para editar e postar depois de a farofa ficar pronta, combinado?
Se quiser fazer uma farofa mais simples, vá em frente! Só com gordura, farinha e um tico de sal vai ficar boa do mesmo jeito.
A receita a seguir rende duas a quatro porções, dependendo da fúria farofófaga dos comensais (não tente falar isso com a boca cheia).
Farofa com amendoim e folha de cenoura
Ingredientes:
- ¼ de xícara de manteiga (com ou sem sal, tanto faz)
- 1 colher de chá de óleo ou azeite
- ¼ de xícara de amendoim torrado e salgado, sem casca e sem pele
- ¼ de xícara de folhinhas de cenoura já lavadas e bem secas (opcional, pode trocar por salsinha, mas recomendo fortemente as folhas de cenoura, mais resistentes e crocantes)
- 1 pitada de cúrcuma em pó (açafrão-da-terra)
- 1 xícara de farinha de mandioca (não vale usar daquela muito torrada nem farofa pronta temperada)
- Sal, se precisar
Como fazer:
- Em uma frigideira grande, coloque a manteiga e o óleo.
- Leve a frigideira ao fogo baixo (na menor e mais fraquinha boca que seu fogão tiver) até a manteiga derreter.
- Junte as folhas de cenoura, a cúrcuma e o amendoim e deixe fritar um pouco, até as folhas de cenoura murcharem levemente, sem deixar queimar. Continua tudo em fogo baixo.
- Acrescente a farinha e, ainda em fogo baixo, mexa o tempo todo. Por mexer, entenda: evitar que a farinha fique muito tempo em contato com o fundo da frigideira. Mude todo mundo de lugar o tempo todo: quem estava na direita vai para a esquerda, quem estava no fundo vem para cima. Pode fazer movimentos variados com a colher de pau ou espátula. O importante é não deixar nenhum canto esquecido e agitar mesmo esse baile aê. O conjunto precisa ir dourando bem aos poucos e por igual, com cuidado para que ele-não-ele-nunca-ele-jamé queime de um lado só. São vários minutos de função, viu? Isso aqui não é bolo de caneca nem batata de micro-ondas, precisa participar!
- Tá, mas e quando para? Agora entra o alerta dos sentidos: quando estiver pronta, a farofa vai fazer um barulhinho diferente, vai ficar estaladiça, pois a farinha vai tostar aos poucos na manteiga. Se estiver em dúvida, espere esfriar um tanto e prove. Aproveite para verificar se está bom de sal (a minha não precisou).
- Retire da frigideira imediatamente (se deixar a farofa ali, o calor residual pode fazê-la queimar) e sirva.
Estava desesperada por umas boas risadas, de preferência com uma boa história culinária, triste que estou com o rumo das eleições. Obrigada! Coloriu o meu dia.
Te abraço, Jana!